Sectores tradicionais: De obsoletos a casos de sucesso


O Dinheiro Vivo quis saber como se operou essa mudança e foi auscultar os responsáveis dos sectores agroalimentar, calçado, cortiça, mobiliário, metalomecânica e têxteis, bem como empresários de sucesso, que criaram pequenos impérios do mais moderno que há no mundo. De António Rios Amorim, do grupo Amorim, a Fortunato Frederico, da Kyaia, passando por José Alexandre Oliveira, da Riopele, Rui Amorim de Sousa, da Cerealis, Elsa Leite, da Fenabel, ou Fernando de Sousa da Companhia de Equipamentos Industriais - CEI. Inovação parece ser o factor de sucesso transversal a todos estes sectores, a par da criatividade, do design, da moda, da capacidade de resposta rápida e da aposta em pequenas séries. Numa palavra, diferenciação. Pela qualidade e não pelo preço.

Elsa Leite reconhece que, finalmente, a indústria é vista "com muito mérito", pelo seu papel na criação de emprego e de motor da economia. E admite que parte disso também se deveu à mais recente crise, que obrigou os portugueses a repensarem as suas opções. "Havia muita falta de patriotismo, tudo o que vinha do estrangeiro era melhor do que o nacional. A crise abanou as pessoas e obrigou a que não se desperdiçassem recursos", frisa a empresária, que elogia os vários programas de promoção dos artigos portugueses, como o 'Compre o que é nosso' ou o 'Portugal sou eu'.
Elsa Leite
Com uma produção de 400 cadeiras por dia, a Fenabel tem no chamado mercado contract (hotelaria, restaurantes, infantários, centros de dia ou lares para a terceira idade, etc) a grande fatia dos seus clientes. Marcas tão diferenciadas como Sheraton, Marriott, Regency, Intercontinental ou grupo Accor equipam os seus hotéis pelo mundo fora com cadeiras Fenabel. O segmento residencial vale apenas 30% das vendas da empresa de Rebordosa, Paredes, que em 2014 se cifraram em sete milhões de euros. Com 80 trabalhadores, a Fenabel exporta, diretamente, 70% da sua produção, mas admite que grande parte dos restantes 30% têm também por destino os mercados externos (são reexportados por empresas de mobiliário que incluem na sua oferta as cadeiras da Fenabel). A empresa familiar, cujas origens remontam ao início do século XX, é hoje gerida pela terceira geração e, para Elsa Leite, foi precisamente a integração de novas gerações, "com novas ideias, com uma visão muito especial da importância da criatividade, da inovação e do design, e, sobretudo, com novas aptidões, ao nível do cálculo, da gestão e até do domínio das línguas estrangeiras", que ajudou ao grande salto das indústrias tradicionais. A empresária congratula-se com a mudança de mentalidades no país e diz que, no caso da Fenabel, o crescimento foi feito "passo a passo", através de uma "aposta essencial" nos recursos humanos, mas também na inovação, em modernos equipamentos tecnológicos e na melhoria das condições de trabalho. Por outro lado, as novas gerações "aprenderam a trabalhar em grupo e a partilhar". A necessidade "assim o obrigou", diz. E, por isso, há um número crescente de feiras e eventos em que a Fenabel se apresenta em parceria com outras empresas, cujos produtos são complementares aos seus. Designadamente com a Serip, que produz candeeiros, e com a Arc Móveis. "Dividimos o stand e, ao mesmo tempo, promovemos os produtos de forma conjunta e integrada. E, em alguns mercados, partilhamos agentes", afirma, garantindo que "todos ganham com a parceria". Refira-se que a Fenabel foi recentemente selecionada pelo designer Pedro Sottomayor para fabricar a cadeira 'Maradona', no âmbito do projeto Duets, que cruza designers e personalidades públicas para a criação de cadeiras personalizadas. O ex-futebolista argentino vai receber uma das sete cadeiras da segunda edição do projeto Duets, integrado no Art on Chairs, evento de promoção internacional que visa impulsionar a competitividade do sector.
www.fenabel.pt

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